"
O fim de uma era, de P'C só restam cinzas.
OHHV é meu novo abrigo.
O fim do fim.


"
The first breeze of december lashes, we talk, homesickness and nostalgia fade away in cigarette smoke. The sky is falling down, and hope still lies beneath the impending doom. Hope, shelter, pure joy, tall and blond, sagittarius. Something happens and I'm head over heels.


"
my skies are jazz
blown into golden pipes
liquid and dramatic
from mouth to mouth

your motionless heartbeat
oscilates in red flesh
exuberant and invisible
losing itself to the rhythm

purity
vanity
envy
love


"
Ansiedade, sonhos desconexos, projetos a correr. Berlim, Bergen, Roma, Bergen, Oslo, Bergen, Gdansk, Bergen. Três meses. Urban farm, and the market spreads outside. Brunch no domingo, skillingsboler, bacon, buttermilk pancakes. Takk for i dag, IKEA! Archaeotecture. Vamos tomar um shot de Jägermeister antes de ir ao Klubb. Vinte-e-três anos. As passagens já estão compradas. Hell's Kitchen? Eu preciso comprar cabide. Macro, mezzo, micro. Cocoa powder, paprika and water, I'm sure. I still don't know what are we supposed to present as a "negotiated item". E eles já me mandaram um email pra fecharmos o carro. Tênis é caro na Polônia? This is our Erasmus, we are supposed to have fun! I guess I'm a bit homesick. Rød som bringebær. Do you really like Pepsi? Sério que é só 100kr o rodízio de pizza? You came to Norway only to complain, don't you? Situation model, 1:500. Shhtiff!

O fim do começo ou o começo do fim, algo assim.


"
Um semestre de isolamento na Noruega, sem a família, sem os amigos, sem o português. Nunca esperou que sairia do status quo, ao menos até que retornasse, enfim, às origens, à terra natal. E foi surpreendido — de uma forma peculiarmente positiva.

Era um dia como outro qualquer, mais um em que poria a deitar-se ao levante do sol. Mantinha contato com seus velhos confidentes quando o alarme de incêndio impôs-se e o interrompeu. Teve de sair de casa por alguns instantes e sentar-se à chuva até a vinda dos bombeiros. Enquanto reclamava silenciosamente do infortúnio, vozes estranhamente familiares capturaram a sua atenção por diversos e longos instantes. Os ouvidos, assim, traziam-lhe a boa nova: era o português. Brasileiros?

Mais um, como todos as anteriores, alarme falso, não havia fogo algum.

[…]


"
Uma noite atípica.

Decidiram por fazer algo pra escapar da cruel rotina. "Um café, uma cerveja, sei lá." — ou algo assim, foi o que ela lhe disse. Encontraram-se, caminharam, sentaram-se. Ela vestia-se toda de preto e ele, todo de azul. Ela pediu um capuccino e ele, um americano e um copo de água. Ela pagou com dinheiro e ele, com cartão. E ali puseram-se a conversar por algumas horas, três, quatro, cinco sobre os desvios de personalidade, as intimidades ironicamente retumbantes, as incoerências do destino, umas e outras simplicidades insolúveis.

Um alívio invadiu-o, alivio de ter-se posto aberto, de ter-se deixado folhear e ler e sentir-se bem com isso. Surpreendente sua reação, visto que sempre fora uma arca trancada, uma Caixa de Pandora.

Do lado de fora chovia, ainda, como o dia todo, como os dias todos. Levantaram-se e puseram-se a trilhar o caminho de volta. A chuva já não o incomodava como outrora, lavou-lhe, ao menos, a alma e as lentes do óculos.

[…]


"
Um misto de sentimentos diversos, objetivos diversos e um dia-a-dia insípido, quase morto. Sentimentos que aqui habitam, sem triagem, sem planejamento, suficientemente grandes para que incomodem, mas não para que promovam revoluções. Objetivos de vida embaralhados junto ao arroz-e-feijão da rotina, indiscriminadamente, sem a devida importância. A bebida não mais traz boas novas, o alimento não mais satisfaz. E pelas pilhas de papéis, textos vazios, frases vazias, palavras vazias, perdidas, marginalizadas. Qual é a essência de viver?

Sentimentos, objetivos, palavras tocam minhas mãos e se desfazem no ar.


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It's at times like these I wish I wrote like you. You seem to bend your words to suit your needs, you melt my heart with your imagery. but I don't know how to say it better, than darling since I met you I haven't been the same. and I don't know, all the whys and wherefores, but you're the one I care for and that will never change.

Can you help me please? You put these things more poetically than me. I've sang of how love feels but it's much harder when it's all real and I don't know how to make it clearer, than honey when I'm near you it's like I'm in a dream. And I don't know if found in stormy weather just to be together is good enough for me.

[…]


"
A saudade diminuiu ou fui eu que envelheci?

Ouvi dizer que o tempo é remédio infalível, elixir absoluto, capaz de cicatrizar a mais profunda das feridas. Porém, apesar de tecido saudável, restam escaras, testemunhas do passado, que não me permitem apagá-lo. O tempo, na realidade, não cura, mas ameniza; não faz esquecer, mas conforta. 

Um ano.

Sempre soube que um dia nos separaríamos. Sinto falta das conversas jogadas fora, dos sonhos adolescentes, das descobertas que juntos fizemos, das longas gargalhadas que compartilhamos. Quando vejo nossas fotos, quando sinto cheiros, é sua voz que escuto ecoar por entre nossas lembranças. Saudades até das lágrimas, da angústia, do momentos em que a vida se fez encruzilhada. Doces os pensamentos que um dia colocaram-me a acreditar que o gozo se alongaria pra sempre.

Um ano e meu coração ainda é ferida aberta, carne crua. E pensar que em quase vinte e dois, o máximo que passamos longe um do outro foram ridículos três meses. Três meses aqueles que balbuciavam pelo nosso reencontro.

Saudade é solidão acompanhada, é quando você já foi embora, mas o amor insistiu em permanecer. Saudade é amar um passado que ainda não desvaneceu-se, é recusar um presente que atordoa, que persiste em machucar, é não enxergar um futuro mais acolhedor, mais pacífico. Saudade é o inferno dos que partiram, traduzida em dor aos que aqui restam condenados. Saudade é estar na presença da sua ausência. Saudade é sentir que existe quem não existe mais…

Um ano e já me parece tão mais. Quando chegar minha vez de seguir, um dia desses, carregado junto da poeira do tempo no vento da madrugada, serei um pouco do nada, invisível e delicioso, mas esperançoso de te rever e de novamente poder te amar, porque tudo aquilo que é realmente nosso nunca se vai pra sempre.

A saudade, por mais excruciante e maligna, mora em mim. Branco no preto, é, contudo, perverso indício de que amei. E é por isso que eu tenho mais saudades. Porque encontrei uma palavra pra usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, nostálgico, até gostoso. Ela é prova inequívoca de que sou sensível, e de que amei muito aquela que um dia pude ter.

À vida, sou eternamente grato por você.

Espero que guarde estas palavras que chorando escrevo como um alívio à minha saudade, como um dever do meu amor; que quando em mim bater um lampejo de você, aqui estarei a lê-las e a chorar novamente.

Fica bem onde quer que esteja. Te amo muito, hoje e sempre.

V


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Notei que o presente me aborrece, que me atormenta. O presente é o verdadeiro disturbio das minhas dopamina, serotonina, noradrenalina e todas as outras. Ele me insere na geração da hiperatividade, do multitasking, do "esse semestre são nove matérias na faculdade, pesquisa, monografia e estágio, tudo em prol da carreira." Na academia a bater continência à malhação e ao culto ao corpo perfeito. Sem filtros e na obrigação de amar tudo o mais intensamente possível, de consumir chocolate, álcool, festas, sexo, indiscriminadamente, de absorver tudo muito rápido, tudo ao mesmo tempo. Eu deito minha cabeça no travesseiro e não consigo desligar, não sei mais onde fica o botão, não consigo descansar. Antes eu dormia nove, depois, entre oito e sete, agora seis é de praxe. Toca café, red bull, smart caps, tudo junto e misturado. Em semana de entrega, é uma bênção quando tenho três. E olhe lá.

Em suma, eu odeio esse imposto estilo de vida superprodutivo, a metralhadora de cobranças e espectativas, os cada vez mais minúsculos prazos, ter de caminhar no compasso alheio, etc. Mas a vida, como o rio que aflora no ápice da montanha, corre cada vez mais veloz e eu, já empunhado dos meus quase 23, como bom escravo do relógio, ponho-me a rearranjar, com muito desgosto, meus passos de tartaruga.


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Diante da distância e da saudade, tempestades de medo e insegurança sopram em ameaças e por muito me sinto nu. É meu único abrigo, veludo escondido, na instintiva pele macia. Sinto falta da sua incontestável graça, do saudoso afago das mãos, o abraço, ainda que junto do peito ainda pulse o vermelho calor incondicional, chama indelével que arde sem se ver. Mas o amor não esmaece com os anos e eu, embora velho, sou eterno pequenino, feito grão de milho, debaixo dos teus olhinhos de coruja.

No meu coração, você não tem um dia só, todos são seus.


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E o calendário a me mostrar que dez longos meses já se somam...


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Braços dados, pernas que bambeavam e se entrecruzavam, embriaguez adolescente. Cambaleamos lá e cá até a parada do trem. Fazia frio e suas palavras a costurar casacos de lã para os dois. Lembro-me que estribuchava, ao entrarmos, sobre a discplicência de um certo alguém, sobre a irresponsabilidade, a não-virilidade. E eu a concordar, já ancorando-me ao balaústre. Fizemos farra e até às fotografias posei, ainda que já postos os olhinhos pequenos, alcóolicos. Entre frase e outra, nossas palavras, já cansadas de coserem-se em coerência, recaiam sobre o celular em fugazes mensagens. Já achavamos graça de tudo, sentia-me a majestade daquela anedota que contávamos; a preocupação e as caraminholas jaziam então anestesiadas.

Emprumamo-nos e enfim seguimos redondilhos a caminhar noite afora. Nossos passos punham-se misteriosos, ritmados, embora ainda entrançados. Agora ríamos da sua não-vocação de casamenteira, de como sempre está buscando candidatos ao meu amor mor. Rodeados de tanta personalidade, retomado o fôlego da maratona, enfim chegaríamos à festa. Os rostos conhecidos já apeteciam os primeiros cumprimentos e os primeiros sorrisos esboçavam-se à mercê da efemeridade da embriaguez. Nossas bochechas amadureciam em maçãs, voluptas, lustrosas, vermelhas, a cada encontro.

Cheguei a pensar em retornar à realidade, porém minha mão foi mais rápida e, num blefe, da carteira fez-se dona. De dentro pode tirar uma nota de dinheiro e, hipnotizante, domou a boca a pedir por mais um drinque. Sincronizados, vi que também empunhava uma taça. E então percebi que de delícias também se vive por aqui, a rir e a confiar o amor tímido e carente às casualidades da sorte.

[…]


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E as duas últimas semanas me fugiram do controle. Emanciparam-se, decidiram-se por seguir sozinhas. E me carregaram entre extremos, do ápice da felicidade à catastrofe absoluta. A tristeza arrebatou-me a vontade de estar ali, por vezes quis fugir, sumir; tentei, mas já sem exito. Isolei-me entre os braços de alvenaria de Heerich, grossos e protetores, ensaiei minha liberdade, um brado, um grito por socorro e sufuquei-me no próprio choro. Ali padeci e ali chorei por longos minutos.

Era a saudade a triturar, mais uma vez, o que ainda resta de um coração dentro de mim. Que falta me fazem os amados, minhas mães, meus amigos, a família. Nove meses se passaram e eu ainda não consigo admitir que teu colo pra murmurar já não mais tenho. Num lapso de consciência, me fora trazido à memória o dia em que, olhando nos meus olhos, você disse já não saber quem eu era; não me reconheceria nunca mais. E novamente me senti nu, indefeso, perdido em pensamentos, engolido pela rejeição, pelo desprezo, pelo desamor. Fiz dos minutos cada vez mais longos, enquanto minhas lágrimas respingavam cá e lá.

Já não sei mais controlar o que sinto. E depois segue o vazio — vazio esse que sempre existiu, ainda que dormente, inconsciente, sem dor. Vazio. A única centelha de esperança que ainda vejo brilhar repousa no tempo, no grande dilema do tempo. Esquecer ou reviver? Entorpecer ou reavivar? Amor é fogo que arde sem se ver / É ferida que dói e não se sente / É um contentamento descontente / É dor que desatina sem doer.

Acho que já sei todas as respostas. Aguenta, coração.


"


and if i ruled the world
i would make every country salute you
and if i ruled the world
i'd make you be mine

and i'm always in your cage
set me free
and you've locked me in your cage
set me free...


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a Noruega me surpreende a cada dia:

banana é vendida por unidade
requeijão vem no tubo de pasta de dente
e ontem tocou tchêtchêrerê na balada.


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Vivo em constantes revoluções. Ora assim, ora assado. Eis que se passaram os tempos de solidão, de não-relacionamentos e me ponho em busca da estabilidade. Quero um beijo, sincero e apaixonado, que seja capaz de reconquistar a cada dia. Olhos que brilhem junto dos meus, dedos em tranças. Segredos de pé de ouvido, quase erógenos, que me deixem arrepiado. A sorte de um amor descomplicado, desnudo, e outrossim sedutor, quase fictício.

Alguém pra chamar de meu.


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Parece que foi ontem a última vez que esboçou um sorriso e se fez rainha do meu mundo, que teve a certeza do nosso amor pueril e que me fez feliz só por existir. Tão perto e tão longe. Sempre pairou sobre ti o medo de me perder e, sobre mim, o medo de ter de viver, ter de encarar a realidade sem você. Brigávamos muito, mas brigávamos por nos amarmos demais. Como eu queria que você estivesse aqui agora. Queria sentir tuas mãos, teu abraço, ouvir tua voz a falar comigo. O tempo ainda não foi capaz de revolver as emoções, nem de preencher a lacuna que aqui ainda existe. Ninguém será um dia capaz de ocupar o lugar que fora teu.

Levo nossas memórias à tiracolo pra quando a saudade aperta. Vejo nossas fotografias, choro baixinho e indago: "Por que? Por que tirá-la de mim?"



quatorze de fevereiro de 2013, 78 anos e um amor que não cabe em mim


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Primeiro dia de aula e foram quatro andares quase infinitos até o auditório. Bjånes Naturecultuepark, Thomas Wiesner, Eli Goldstein, pastas, pastas, mais pastas, John Cage, Düsseldorf, Hombroich. Um brasileiro, um inglês e uma finlandesa entre os demais noruegueses. E ninguém achou que o Brasil fosse selva, ou que falávamos espanhol, ou que não tivéssemos eletricidade. Todos perplexos "Brazilian? From São Paulo?", cada vez mais interessados nas minhas histórias e nas minhas crônicas. "Niemeyer was a great icon, a great master after all, I can imagine how disturbing was his farewell to you..." Não tem como não amar arquitetos.

Interessante é que meus companheiros de turma são todos mais velhos. Poucos ainda de vinte e tantos, alguns já com mais de trinta, uns com filhos, outros que desistiram da primeira faculdade pra seguirem na arquitetura; tem pra todos os gostos. "Me chamo Pia, qual é o teu nome?" E fui pego de surpresa por uma frase em alto e bom português.

Entre andanças e mini aventuras urbanas, fomos à montanha, Fløyfjellet como a chamam. As árvores nuas, as trilhas cobertas de gelo, o ocaso por entre os vales e uma vista panorâmica da pequena e tão fascinante Bergen. Tranquila, simpática, receptiva. "MASP is in São Paulo, isn't it? The one big museum designed by Lina Bo?" Falei muito, falei sobre os mais diversos assuntos e me senti incrivelmente querido com a fascinação com a qual meus futuros amigos se adereçavam a mim, sedentos por informações, por notícias, por conhecimento acerca da minha terra natal.

Terminamos o dia assim, sentados à calçada, munidos de varm sjokolade e skillingbolle, amando termos conhecido-nos. E os meus dias aqui estão só começando.


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Faz pouco mais de uma semana que cheguei, embora tempo e espaço já não se comuniquem mais dentro de mim. O frio e o ócio me permitem refletir sobre muitos dos meus conceitos pessoais acerca da realidade. Sempre pensei que do Brasil não sentiria falta, que seria capaz de viver longe e sem remorsos, mas não é tão simples assim, pois estarmos seaparados só me fez perceber o quão difícil é partir e deixar pra trás o próprio passado.

Viver em outro país sempre fora um fetiche, algo que idealizava nas minúscias. Ensaiei o estilo de vida que teria, da rotina acadêmica aos diálogos, e construí o espetáculo do intercâmbio em meus pensamentos. A grama do vizinho é sempre mais verde. Viver em outro país não é uma experiência tão fantasiosa e manipulável quanto pensei, tampouco ideal e perfeita. Os vinte e dois anos de Brasil cresceram raízes e amadureceram frutos, dos quais tive de abrir mão antes de partir. Estar sozinho nessa terra hostil, de língua e cultura tão distintas, só intensifica a chaga por ter sido arrancado de lá, por não mais inserir-me à minha zona de conforto.

Não digo, todavia, que esta experiência seja menos positiva ou que não me engrandecerá por ser difícil. Minha mãe não tarda em falar que preciso ser forte, que não devo desistir. Não vou desistir, prometi a mim mesmo que, amando-a ou mesmo odiando-a, chegaria ao seu fim.

E chegarei.


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Quem me conhece sabe que intercâmbio sempre foi uma das minhas metas de vida. E todas as pequenas peças, os mínimos detalhes, um a um, foram se encaixando para que eu pudesse completá-la. Me despedi de amigos e família e parti no escuro.

E entre conexões e fusos, depois de quase 24h de viagem ininterrupta, cheguei ao meu destino final — ao menos final por este ano. Bergen, um cidade na costa oeste da Noruega, edificada sobre as colinas e seus vales, à beira das águas geladas. As cores, como temperos, condicionam a paisagem nevada e lhe proporcionam charme e simpatia inigualáveis. De dentro do avião eu já pude perceber essa paixão, quase instantânea, adolescente e ainda bastante imatura, mas real.

De ônibus percorri as estreitas estradas estranhadas nas rochas e pude chegar ao centro. “... uma mala verde-limão, vermelha e amarela e outra...” e foi então que meu confidente me avistou ali baratinado, em meio às pessoas e à neve. Fazia -2ºC e eu tremia de leve. “Eu li sua mensagem, mas não tive crédito para respondê-la. No fundo, eu sabia que reconheceria essa tal mala…”

E foi o Bybanen que nos trouxe até Fantoft, minha fortaleza nórdica — até que se prove o contrário. De todas as maldições, creio que me rogaram a menos pior: um apartamento minúsculo, dividido com mais uma pessoa. Não que eu estivesse esperando luxo e mordomia, mas meu confidente me apresentou seu apartamento e, apesar de termos a mesma planta, seu espaço é mais novo, mais bem cuidado, com mais cara de lar. E se o quarto tem um tamanho excelente e uma janela incrivelmente grande, o que já deixa feliz pra começar, o banheiro, por outro lado, é algo que ainda não compreendi e ainda não sei se terei capacidade de tal.

Comprei duas garrafas de Bonaqua Sitron com notas de dinheiro do Banco Imobiliário, miúdas e coloridinhas, e moedas com furos no meio. Foi o fim do primeiro dia. Entre comida de avião, jetlag e muitos copos de café, espero conseguir relaxar essa noite e acordar mais animado que nunca, dentro do meu próprio sonho, conquistando o que sempre quis, vivendo e aproveitando essa chance, esse Gold Ticket.

E prometo que não vou fazer feio.


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When was the last time you did something for the first time?

Foi assim que o meu 2013 começou, ao menos em pensamento. Resoluções de ano novo são sempre batidas, clichês em loop infinito. Decidi que não me prenderia a promessas que esquecerei ou as quais não juntarei esforços para que se realizem. Decidi que seria meu momento; meu momento de experimentar e redescobrir o mundo. Redescobrir a mim mesmo.

Em uma semana exata, sairei da minha zona de conforto, de debaixo da asas dos que me amam, e seguirei em frente, trilhando meu caminho com passos de gente grande. Algo entre a ansiedade e o medo me consome: meu estômago embrulhado, mas minha mente já vai longe. Quero e não quero, não sou corajoso. O que conforta meu espírito, por incrível que possa parecer, é a ânsia de cumprir com a minha meta, com a minha resolução de ano novo. É o meu momento, chegou a minha vez de sair do ninho e voar sozinho.

And if I'm flying solo, at least I'm flying free.


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Logo agora que começamos a nos entender melhor, vira as costas e me deixa vil.

Quando nos conhecemos, confesso, armei nosso relacionamento de expectativas diversas, boas e más, umas positivas e outras nem tanto, mas me entreguei, deixei-me levar pelo seu molejo. Pensei que de nós sairiam voluptuosos frutos e que, juntos, seríamos capazes de alçar as glórias da conquista, da alegria. De olhos fechados, sem titubeios, consigo comecei a trilhar mais uma das tortuosas estradas da vida.

E na primeira oportunidade que teve, sei que se deixou levar pela fúria, foi implacável, impiedoso, arrancou uma parte de mim. Parte essa que eu não sabia ser capaz de conviver sem, não sabia o quão doloroso seria existir sem tê-la aqui comigo, junto da minha carne. Mas prometi que a confiança a qual eu havia projetado sobre si não se abalaria e que, de mãos dadas, continuaríamos juntos, independente de quaisquer contratempos. Nosso segundo momento, no entanto, foi muito delicioso. Notícias agradáveis nos rodearam, oportunidades de ouro nos foram oferecidas e momentos singulares nos foram proporcionados. De tudo e todos, soubemos extrair o melhor: trabalhamos, cativamos, amamos, engrandecemo-nos.

 É com certo receio, mas enorme satisfação, que eu de si me despeço, 2012. Você, comigo, me fez colher os frutos da virtuosidade, me fez crescer como indivíduo, me ensinou a viver mais leve. Obrigado por tudo que me proporcionou e que venha seu irmão mais novo ser minha nova companhia em minhas futuras aventuras mundo afora.

Adeus, 2012! Seja bem-vindo, 2013! (((:


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I drink coffee like water and I still never know what to say. I still don’t know how to get out of bed half the time. It is not pretty or endearing. I whisper you secrets, I am still looking to be saved, sometimes I am so weak, sometimes I am so strong. Here you go, I will give you everything for one more chance.

A thousand butterflies surrounding some kind of deep and intense feeling, something genuine and unpredictable. Upside down and counter-clockwise. Balance is a virtue. Stricken suddenly and strongly by a harsh cotton-made pound, unbelievable. I ask incessantly for an explanation, but all I am able to hear is a familiar noise. Metronomic, constant and familiar.

My heart is ugly, but it could be all yours.



Posted 3 years ago.


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Fim de ano sempre me deixa muito apreensivo. Eu e minhas manias, fico a recordar os tempos passados, tento recapitular as minhas memórias mais antigas. O peito fica apertado. Fico a recordar os tempos em que eu acreditava que tudo durava ad infinitum e que felicidade não era resultado de um esforço mental, mas uma consequência natural da vida. Lembro de ir andar de bicicleta aos domingos com meu pai, de me juntar à minha vó nas vésperas de Natal pra cozinhar, de quando minha mãe me comprava aquelas canetas coloridas uni-ball SIGNO e de como a laranja e a roxa eram minhas preferidas. Memórias da inocência, resquícios da época em que minha maior responsabilidade se resumia em saber amarrar os cadarços.

Fim de ano sempre me deixa muito apreensivo, mas esse em especial, longe de casa e o primeiro de muitos sem meu anjo de todos os dias, sem meu porto seguro. E então ele termina devastador, com um sabor amargo e, mais do que nunca, saudosista. Que venha 2013, menos agressivo, menos implacável, menos turbulento e mais… doce.

dies martis xxvi ivnivs mmxii, saudades eternas.


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A chuva começou a cair na quinta e seguiu através do fim de semana. Evitei-a o máximo que pude, mas eis que chegou a segunda, a tão sabática segunda. Tomei fôlego e pensei que o guarda-chuva se bastaria ao meu enxuto resguardo. Estúpido engano.


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O tempo é como o mar, que arrasta consigo fatos e realidades. Petulâncias, e que só ele é capaz de fazer desaparecer. Leva embora a dor, leva embora o amor. Faz tempo, faz bem o tempo. Carrega as velharias e revolve com a nostalgia… É como o mar que lava as lágrimas da tristeza, mas que faz escorrer sobre o rosto as lágrimas da saudade. Saudade essa que persiste em ser, em estar sempre presente…


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Em alguns instantes, os vinte e dois. Mais um grande ciclo solar se completa, deixando ainda comigo os mesmos medos e inseguranças que, no passado, já me aterrorizaram. Surgem alguns novos, outros se prestam à letargia; o aprendizado nunca se finda.

Escorpião é um signo orientado por crises, mas, muito ao contrário da crença, atrelou-se um equívoco ao real significado da palavra, que originalmente vem do grego crinos e significa decisão. Já descobri que 2013 será um ano bastante característico às cisões escorpianas. Não se trata, pois, de um ano problemático, mas de um período de decisões profundas, radicais e poderosamente transformadoras. Tenho carta branca dos astros para tomar as atitudes que julgar corretas e necessárias, mesmo que soem anitpáticas aos outros. Carta branca pra poder separar o que faz bem do que não faz, o que fica do que vai, e assim por diante.

Fico na expectativa, que venham os vinte e dois!


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Vó, não irei chorar hoje pela falta que você me faz, porque a vida me ensinou que nossos elos não cabem na carne. Não irei chorar, porque a saudade é uma armadilha do tempo e sei que te carrego comigo por onde quer que eu vá. Você está no meu caráter, no meu amor, em cada minúsculo pedaço da minha índole. Você está no meu cotidiano, nos detalhes mais simples que me remetem à nossa história juntos. Dia após dia vejo nossas fotos, releio nossas cartas e tenho a certeza de que você renasce em mim. E assim, com você aprendi que nosso amor é capaz de curar a dor, amenizar o sofrimento e confortar o espírito. Aprendi que nosso amor vence, ultrapassa, transcende.

Te amo muito ♥ (((:


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que nefasta a partida
que escancara a chaga do coração
que não mede consequências.

nós dois seguimos a rir
estacionando os pensamentos no gozo
e não mais na crua realidade
a amizade que fora construída sobre o amor
que, apesar de não ser perfeita nem infalível,
permanece acesa do lado de dentro
não é pela distância nem pelas saudades
não posso tê-lo mais próximo dos olhos
tua cor desvela-se em meus sonhos
eu e você, pra sempre.

a vida é assim
vivemos, amamos, mudamos
mas eu não deixarei que nada nos destrua.


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Tem vezes que me sinto na sede de ser desafiado e de desbravar terras desconhecidas dentro da minha própria personalidade. Um autoconhecimento guiado, instrospecção essa inquisidora, que busca respostas aos mais diversos questionamentos. Tête-à-tête comigo mesmo, busca infinita pela minha essência de ser. Tenho necessidade e sinto saudade de um alguém que nunca cheguei a conhecer. É uma caminhada muito traiçoeira; meu eu aprendeu a moldar-se — acomodar-se, de certa forma — e assim me perco pelas diversas estradas que comecei a construir e depois abri mão. São as modas, as amizades, os meios (os começos e os fins), os ambientes, os processos, as necessidades e por ai vai, posso ficar aqui por horas contabilizando.

Me olho nas fotos, no espelho e por vezes me encaro, me indago e não me reconheço. Sou uma tela branca, sensitiva e crua, à mercê das tempestades mundo afora. Me deixo marcar, me camuflo nas frugalidades, me perco dentro dos meus próprios passos. É força do hábito, costumbrismo impositivo de mimetizar o plano de fundo, de pertencer ao todo. Me perco e divago pelas praias do meu ser; custo a ser encontrado em meio às digressões.

Estou sedento de mim mesmo.


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When routine bites hard, and ambitions are low. And resentment rides high, but emotions won't grow. And we're changing our ways, taking different roads. Love, love will tear us apart again.


Vó, sinto saudades.
Quero seu colo agora, mais do que nunca.


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Sempre reservado a um momento de efusão sentimental, Andy Warhol parecia, desde a tenra infância, desprovido de emoções. Parecendo insensível, ele passava, portanto, por cruel, inescrupuloso. Entretanto, a falta de sinais exteriores de sensibilidade não basta para afirmar de alguém que ele é mal-intencionado. Ao longo de sua vida, Warhol sempre se expôs ao ressentimento dos outros, que o acusarão de ser um aproveitador perverso, um frio calculista que escondia seu jogo sob uma doce placidez. […]

Mas não sentir, ou se ressentir, é uma coisa; ser cruel ou agir para prejudicar outrem é outra. Digamos que tudo se passava como se Andy Warhol fosse dotado de um anestésico natural, de uma faculdade neutralizante, que bloqueava os sentimentos, os tremores emotivos, as comoções sentimentais ou patéticas. Numa entrevista de 1975, por ocasião do lançamento de seu livro A filosofia de Andy Warhol, o jornalista lhe pergunta: "Você faz de si mesmo uma espécie de espaço vazio neste livro. É uma observação sincera, um achado, ou uma pose pra vender o livro?" Andy Warhol respondeu: "Não. Acho que sempre fui assim". A imagem do "espaço vazio" convém perfeitamente, sem dúvida. Ela corresponde a sua experiência "interior", que trabalha para se negar como interioridade. Anular a profundeza, recusar afogar-se no "esgoto da consciência", estar sobretudo na superfície e não sofrer os movimentos aleatórios e caprichosos de sua sensibilidade, não se deixar encerrar na prisão de sua subjetividade — são outros objetivos implícitos que Warhol se propunha com seu "voto" de insensibilidade.

[…] Mas, concretamente, se Warhol queria extirpar suas emoções, foi com certeza porque pretendia privilegiar uma outra relação com o mundo em geral, e com sue ambiente imediato em particular. Sua percepção do mundo, não sendo tingida e banhada pela emoção, seria intelectual, irônica e icônica — idéia, enquadramento e imagem, eram essas as categorias que povoavam seu espírito e organizavam seu pensamento. A plasticidade de sua maneira de pensar o fazia perceber o mundo de uma determinada maneira, sem indignação, sem tristeza, sem cólera, mas na forma de uma observação curiosa, forçosamente distanciada — irônica. […] Ocorre que alegria não se distingue da tristeza só pelos seus efeitos, mas, talvez, antes de tudo, por seu status: a alegria não é uma emoção que comove, mas um estado mental que sanciona uma compreensão intelectual e perceptiva do mundo. Com a alegria, ou a ironia, as pessoas desmancham a armadilha da consciência e da subjetividade, se desfazem do ponto de vista calcado na estreiteza do que chamamos, aliás, de interioridade, ou de intimidade, que com frequência lamenta. Com essa configuração mental, o jovem Andrew aprendeu rápido.

KORICHI, Mériam.


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Parece que foi ontem o dia que nos conhecemos. Lugar errado, gente errada. Apesar do exterior, senti em você um conforto. Costumo estranhar, a princípio, as pessoas com as quais eu me dou bem se me deixo levar. E com você não foi diferente: entre indas e vindas, consegui me encontrar. Preto no branco, pude descobrir que sempre fomos muito idênticos e, ao mesmo tempo, muito opositivos, ao par que nossas atitudes eram, normalmente, diversas, mas levariam a um mesmo fim e nossas posturas eram conflitantes, mas sempre batalhavam por um mesmo desfecho. Nossa convivência nos fazia infinitamente bem. Compartilhávamos conhecimentos, confidências, delícias. Eu sempre fui seu e você, meu.

Acho que vivi por todos esses anos com uma certeza que de não te perderia, de que seria insubstituível à sua vida. Porém confesso que, recentemente, não consigo mais vizualizar aquilo que fora "nós" num passado-mais-que-perfeito. Não consigo mais fechar os olhos e escutar sua voz ecoando dentro da minha mente. Vejo nossas fotos juntos e entendo que, apesar de os momentos serem efêmeros, as memórias se reguardam pra sempre. Sem data pra não ficar no passado. Se um dia eu soube que você me pertencia, hoje já não guardo mais essa razão comigo.

É óbvio que nossa existência tomou rumos distintos, colocando cada qual de nós a trilhar uma rota incerta e obscura. E durante esse processo, conhecemos e continuamos a conhecer pessoas novas, igualmente (ou não) necessárias a nós mesmos. Apesar disso, não acredito que nossos laços devam afrouxar-se. Nossas ligações estão tão enfraquecidas que eu já desconfio se você ainda é aquele que conheci há alguns anos. Se ainda é quem sempre se escondeu, franzino e frágil, por entre as mazelas de um esteriótipo e se mascarou. Se ainda é quem me segurou em pé quando tudo conspirou pela minha queda, pelo meu fracasso, pela minha depressão. Se ainda é quem me disse, olhando nos olhos, o eu te amo mais sincero que já escutei de um amigo até hoje.

Eu sempre soube me fingir de forte e vestir a indiferença, quando, na verdade, o que mais tive foi vontade de chorar. Eu sempre fui muito orgulhoso do meu caráter e das minhas atitudes pra aceitar um erro, um desvio. Eu sempre fui muito sucinto quando lhe contei sobre os meus sentimentos, mas sempre soube que você me compreenderia, saberia ler minhas chagas e que teria um curativo, que zelaria pelo meu bem-estar acima de tudo. Por debaixo de toda minha sisudez, guardo um coração mole, fraco, carente. Sou possessivo, tenho muitos ciúmes das minhas amizades, das minhas conquistas. Dentro dessa minha conchinha, existe um ser que tem medo de ser ridicularizado pelos sentimentos, de ser rejeitado por quem mais preza— um ser que tem medo, acima de tudo, de perder quem ele ama de verdade. A cada palavra, meus olhos se desmancham mais e mais em águas.

Quero consertar tudo aquilo que construímos sem precauções, sem dar a devida importância e quero ter uma segunda chance pra reescrever esse conto que chamamos de vida. Busco reavivar a chama que queimava aqui dentro quando pensava em você. Nossa amizade tem um valor imensurável a mim a ponto de revés algum me fazer desistir. Quero, mais do que tudo, que voltemos ao passado e que nossa necessidade de um pelo outro volte a existir, volte a nos obrigar aos encontros, aos momentos juntos, às conversas.

"[…] Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos dourados. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará com que eu me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…"

Nunca se esqueça, você se torna eternamente responsável por aquele que cativa...


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teu abraço já não me conforta como fizera
teu sorriso ergue-se pelo hábito
teu olhar se desvia de mim.

nós dois seguimos quietos
amarrando os segredos pelos bolsos
e não mais na confidência
a amizade que sofre com os lapsos temporais
que não é perfeita nem infalível
desmorona pouco a pouco
não é por falta de esforço nem de tentativas
não posso mais enxergar através da tua transparência
tua cor me parece apenas cinza
eu, você e um abismo.

a vida é assim
vivemos, amamos, mudamos
mas eu perdi a capacidade de te reconhecer.


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Quero ser capaz de falar, mas as palavras me faltam. Dos sentimentos, ficaram a inconstância e a indiferença. O sorriso amarelo esconde os gestos robóticos. Frutos de uma realidade humanamente inaceitável, porém que reflete o destino. A vida nos tritura, transforma nossos sonhos em fuligem, pisa e escarra nas ambições. Lutar contra a maré só serve pra cansar, não se conquista nada. Não se é capaz de conquistar nada. Os desejos nos acompanham pra debaixo da terra, pra junto dos vermes, pra junto da repugnância. O fim é sempre igual, o fim é sempre o fim. O fim é a única certeza da vida. E um milésimo de segundo é capaz de rasgar absolutamente tudo.

Incrédulo e desolado, mas ainda assim anestesiado.


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Tive minha mente perdida em pensamentos, colocando à prova sua própria fidelidade para com o status quo. É tão simples fomentar uma opinião sólida quando não é você quem está coberto pela avalanche de dúvidas. Dia após dia, memória após memória, e as incertezas rodeiam, perseguem, maltratam. É como estar preso na própria armadilha, indefeso e assutado, numa eterna luta consigo mesmo a fim de uma resposta contundente e, quiçá, plausível.

Viver sem expectativas, pra não se ferir. Por mais pastelão que possa soar, aproveitar cada segundo do presente, sem carregar ressentimentos passados ou projetar ânsias ao futuro. Não existe certo e errado, mas sim aquilo que faz ou não sentido à consciência. Apesar das dúvidas, eu hei de acreditar que o destino sinalizará claramente o momento da mudança. Abrir os pensamentos ao branco, ao novo e abrir mão de comportamentos com prazo de validade. Destapar-se ao universalismo.

Vai-e-vem. E mais um ciclo se completa.


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Só se pode viver perto de outro, e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio, se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

ROSA, João Guimarães.


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Noites quentes de inspiração à varanda. Estacionar ali convoca, em mim, memórias da primeira vez que saímos juntos. Foi incrivelmente inocente o modo como meus pensamentos te abraçavam. Era 11/11/11 e discutíamos, ainda perplexos, sobre os delírios esquizofrênicos do Almodóvar. Estávamos sentadinhos, lado a lado, a ouvir músicas que nos inspiram, que nos cativam. Nossos olhos trocavam flertes, já namoravam, despretensiosos e quase criminosos. Contos de fadas vivenciados à varanda. Uma jura de amor testemunhada pelas estrelas. Duas latinhas de Heineken quase vazias.

Gato por Tigre, acabou a festa na vizinha.


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Você descobre o amor quando a distância traz consigo a saudade. E no reencontro, as pernas bambeiam assim como no primeiro beijo. Segundo um amigo, não se prendem pássaros nem corações. O importante não é estar ao lado, mas do lado de dentro.


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Existe uma razão cósmica pra todos os irônicos acontecimentos do dia-a-dia, seja ela compreensível ou não. Surgem, naturalmente, questionamentos acerca de inúmeros aspectos, se as atitudes tomadas foram sujas, inescrupulosas, os pensamentos, negros, depreciativos. Mas eu acredito em karma, pendências de passagens passadas. É tão mais fácil acreditar que vive-se uma vida plácia e imaculada, culpando o cosmos por todas as intempéries.

Outro aspecto: as aparências. Vive-se cada vez mais para o prazer alheio. Deixar-se influenciar pela opinião de um desconhecido? Basear o quociente de felicidade do subconsciente em extravagâncias? Desde quando o alheio se torna tão responsável pela tua própria substância? Viver para os outros, em função de uma figura, reduz o ser a uma cifra, a um vulto. Disforme, inconstante, obscuro. Um cadáver.

Viver é uma falácia. Mas eu acredito em karma.


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Um abismo que consome, um abismo intransponível, infinito, negro. Sem previsão de salvamento, sucumbem-se em desalento as últimas e resilientes esperanças. O céu se desmancha em tonalidades de cinza e o mar rebenta sua mágoa na ressaca. O núcleo perde calor, lhe secaram os interstícios de escape. O magma dos mortais, sísmico e ávido, já não mais regojiza em fogos de artifício.

Murcha-se ao invés de desabrochar.


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É impossível descrever um ano completo, pois por muito se passa e há memórias que se perdem. E é igualmente impossível julgar se foi melhor ou pior que o anterior como um todo. Intervenções pontuais parecem mais apetitosas e frescas à memória, por isso tem-se a sensação de vantagem de um sobre o outro. E por mais pastelão que possa soar, Ano Novo é tempo de vida nova.

Traçar metas concretas, repensar nas prioridades, reavaliar a existência. Projetar as esperanças (e frustrações) aos novos tempos. Crescer como pessoa, evoluir. Fazer mais pelos outros sem pedir nada em troca. Tornar-se alguém melhor, menos egoísta, menos estressado, menos estapafúrdio. Ser gentil, amável, alegre, dedicado, persistente, positivo. Odiar menos, amar mais. Amar muito mais. Cuidar de si, cuidar dos amigos, cuidar de quem se ama. Aproveitar cada segundo de uma boa companhia. Não economizar sorrisos e risadas. Não julgar sem conhecer, não consumir a mente com idéias e pensamentos proibitivos. Visitar o mar mais vezes, adimirar o céu estrelado mais vezes, curtir o cheirinho da grama recém aparada mais vezes. Arriscar. Encontrar um amor eterno mesmo que dure só até a próxima estação. Se permitir ser feliz, acima de tudo.

Último dia do ano… Tem como não ficar saudosista?


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não tenho feito nada de relevante
fico em casa a ler, às vezes saio com amigos, vou à academia
minha cabeça precisa estar ocupada
porque cá ela ficou
e meu coração tá ai contigo (foi sequestrado).

a distância perturba, maltrata, judia.
mas o importante—
o importante não é estar ao lado, mas do lado de dentro.

o coração foi-se
a cabeça permaneceu
mergulhada nas memorias de ti
angustiada e estupefata
com uma única certeza:



a do nosso reencontro.
(e é isso que a conforta, probrezinha!)


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As consequências do amor na vida de alguém são como a refração da luz branca através de um prisma: um raio que se transfigura em sete, um sentimento que se reparte e devassa barreiras físicas e emocionais por todo o oceano interno de um ser.

Descrente era eu ao pensar em minha mera passagem pelo mundo. E, depois que descobri onde se escondia minha felicidade verdadeira — simples e plena —, encaro todas as questões que em mim orbitam de uma forma tão mais prática e consensual. O despertar da verdadeira honestidade para comigo mesmo. O fim da tempestade. As pequenices são capazes de me estampar um sorriso eterno ao rosto. As pequenices roubam-me o tempo, a lucidez neurótica e esquisofrênica, as preocupações. As pequenices trazem de volta o meu gozo em viver.

Sou como o pássaro que, ao anoitecer, pensa estar encaminhando-se à morte e desespera-se, mas ao acordar, no dia seguinte, sente o frescor da vida novamente dentro de seu corpo miúdo e põe-se a gorjear uma bela e saudosa canção de ode ao sol. Penso e repenso, o coração bate mais forte, as bochechas enrubrecem. Culpa daqueles olhos, verdes e hipnóticos, de azeitona, empalhados acima do nariz com sardas.


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A chegada de um novo ciclo. Mais esclarecedor, mais professor, mais definitivo. Com o pé direito, para afastar os maus agouros e trazer vigor, energia. Adiciona-se à perspicácia, à impavidez, à primazia.

Apaguei minhas velas. Dois e um brancos, decorados com uma borda azul. Ah, e uma gravatinha borboleta! Prefiro tortas a bolos; apaguei minhas velas sobre tortas e não sobre bolos. Fiz um pedido único e verdadeiro: que esse novo ciclo seja infinitamente melhor que o anterior e infinitamente pior que o seguinte. Tem de ser assim, a vida tem de proporcionar experiências mais e mais extraordinárias ano a ano, superando o passado e desvelando as vias ao imprevisto, ao obscuro futuro.

De nada posso reclamar. O saldo dos altos e baixos é sempre positivo. A chegada do novo ciclo foi distinta e inigualável. Melhor que a anterior e potencialmente inferior à sucessora. Tem de ser assim, é a ordem natural dos fatos. Gosto — e muito.

Vinte-e-um… doces vinte-e-um...


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Duas palavras: inferno astral.

Levarei minhas obrigações com tranquilidade, pois não quero envelhecer dois anos ao invés de um no mês que vem. É hora de amadurecer as preocupações, rearranjar as prioridades, descartar certos comportamentos. Tranformar-se n'algo melhor, evoluir. Na verdade, não gosto nem desgosto. Faz-se necessário e professor. Auto-análise. Tempo de aprender a se ler, se decifrar, se desmistificar. Mais um período está prestes a se concluir. A idade me faz bem, sinto-me mais observador, mais lúcido, mais crítico.

Assusta, de qualquer modo, pensar nos vinte-e-um — mas logo passa.


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Ao nascimento, todas as proposições consolidam-se, não existe escapatória. A vida é sentenciada e o prazo de validade põe-se a vigorar. Inicia-se, assim, a contagem regressiva da existência. Tudo está fadado ao fim, à putrefação, ao pó — feliz ou infelizmente. E esse breve lapso de tempo faz-se indecifrável. Os dias correm esbaforidos sem que se saiba o quão rápido a morte se aproxima.

A mera e breve passagem mundana deve ser demarcada com afinco pelas amizades verdadeiras e pelas pessoas que com você se importam. Como diria um amigo de longo prazo, "saber separar o joio do trigo". Saber escolher aqueles que merecem herdar o amor, o apreço, a consideração de um relacionamento genuinamente honesto. Escolher as companhias a dedo, selecionar. Não se deixar influenciar e bater o pé. Sacrificar-se na medida do cabível, do adequado, sem exageros, sem cobranças, sem xurumelas. Aceitar ao invés de tentar modificar, adaptar-se e não tentar remodelar.

Com o tempo, os atritos saudáveis fazem com que as arestas se desgastem e as peças se encaixem. As diferenças vêm para o bem e os problemas se resolvem. Aprovação. Laços de família, indeléveis, inexpugnáveis. Como o mar, brilhante e fascinante, que hipnotiza e que pacifica.

As areias do destino, todavia, podem, ao invés de conformar, descortinar a verdade. Uma suposta amizade de pederneira, que gera faíscas e, assim, o fogo. Incendeiam-se as expectativas, a esperança, as boas lembranças. Ardem em chamas as semelhanças, os gestos, as palavras. Os últimos fragmentos de algo cegamente denominado eterno ardem em brasa e terminam em cinzas. Pulverizadas, largadas, como palavras ao vento, ditas a nenhum ouvinte, perdidas, desacreditadas, desiludidas.

Há males que vêm para o bem.


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Perder um amigo é brutal. Tê-lo arrancado da sua vida, sem questionamentos ou partidas, como se um pedaço de si fosse levado junto para debaixo da terra. Sofrimento do tipo que não se deseja a ninguém. Como um baque, que atordoa e desorienta, que estremece, que suga a realidade e a mistura com os medos mais sinceros do coração. Faziam parte do cotidiano os planos e as gargalhadas. Delas, sobram as migalhas, as memórias de um tempo que não volta, as recordações que retorcem os sentimentos numa confluência de alegria e desespero. Despede-se sem pensar que o outro possa desaparecer. Despede-se com a esperança inconsciente do reencontro. Perder um amigo é brutal e dói. Os pensamentos se afogam em culpa, o mundo cessa suas rotações. E, assim, o céu ganha mais uma estrela. Amada, querida, desejada — e brilhante.

Descanse em paz.


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O amor não é uma mercadoria, que se pode comprar, usufruir e então, quando aborrecido por seus efeitos colaterais, descartar. O amor não é um interruptor, para ser ligado e desligado ao deleite de um egoísta. O amor não é um fio de cabelo, que com qualquer saculejada põe-se a se desprender de seu substrato. O amor não é um sentimento frívolo, leviano e tampouco deve ser tratado como tal.

Ah, o amor… Em você acredito, mas dúvido que, essencialmente, exista.


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Uma aventura. Pêlos da nuca que se arrepiam ao toque, calafrios que percorrem cada centímetro da doce e dourada pele, macia, cheirosa, irresistível. Beijo atrás da orelha, dedos pelos cabelos, corpo a corpo. As mãos, irrequietas e taradas, agarram, arranham, satisfazem-se. Contorcidos, os joelhos se movimentam suave e confluentemente. As palavras se afogam no desejo. Os olhares denunciam, gritam a verdade. Os corações pulsam em perfeita sintonia. Ofegantes…

…e tão inacreditavelmente distantes. O concreto se esfarela em memórias de um tempo de experiências, de momentos eternos e perfeitos, do calor dos sentimentos. Memórias que amaldiçoam, que persistem em trovejar; memórias finitas e construídas sobre a carência, sobre a necessidade, e que logo tornam a desabar. A rija e calejada carapaça esconde e protege o âmago dos bisbilhoteiros, camufla toda minha fragilidade das intempéries. Escondo-me nas alegorias da vida e visto uma máscara. Pelas sombras, sigo recolhendo, pouco a pouco, fragmentos do que fora minha felicidade. Estilhaçada, penalizada, lúgubre, tétrica, raquítica, insignificante, miserável, desgraçada, ridícula.

Quero serotonina, em doses cavalares.


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O certo me parece impossível e o errado, improvável. A vida me faz descarrilar e ainda não aprendi as técnicas que me reergam. Desatinado e conformado. Um prolixo de meias verdades para calar as angústias, as mágoas. Esfastiado para permanecer, apavorado para prosseguir. Ludibriado pelo próprio discurso, impávido e breve. Esse sou eu, um parvo, mórbido e comatoso, de espírito deprimido, frouxo e lânguido.


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Estranha, ou quiçá incomum, é a minha realidade. Tramo planos inconcebíveis, articulo diálogos inexoráveis, formulo lógicas irredutíveis e descabidas de coerência, converso só e forço a memorização de palavras novas ao meu cabedal. São partes constituintes de um sistema factual verdadeiro, intrincado, porém verdadeiro. Manias, cacoetes, rituais, transtornos de obsessividade. Processos mentais desconexos e dotados de linguística própria.

Faz sentido aqui dentro e isso me basta.



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Transformação, metamorfose, catarse. Quando o próximo mostra-se distante e o inalcançável, concebível. Distorcer as ligações íntimas/perigosas, subjugar os impulsos, as paixões, mudar o ponto de vista. Amadurecer. Descascar as relações enxergar além, substituir-se, retorcer-se, curar-se das chagas, dos carcomas, das desgraças. Viver é um constante aprendizado, andrajoso e estapafúrdio, em que a sobrevivência é um triunfo. Tem de se escolher, em meio aos doidivanas e pervetidos, as companhias de valor e as que sabem por você zelar. As constantes e imutáveis, que estimam, amam e corroboram a todo e qualquer contexto.

Simples assim.



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Um amor inexplicável, inconsequente e, principalmente, incomensurável. Que dá sem pedir nada em troca, que se dedica, se faz presente—forte, intenso, infinito. Amor esse que não precisa de provas de sua existência, puro em sua essência, verdadeiro e fiel, instransferível.

É um pecado celebrar seu prestígio ano a ano apenas, pois não há dia para que seja Mãe. E mais do que isso, chamá-la apenas de progenitora implica em reduzí-la pela metade. Batalhadora dos dilemas da vida e heroína de um admirador singular—um modesto e atônito admirador—que a leva no coração, mergulhada num carinho avassalador, numa dedicação sem limites e num amor puro, incondicional e onipresente.

Amor de mãe é um bem precioso, uma jóia rara que fora lapidada aos poucos, com muito esmero, durante os nove meses que precederam o primeiro encontro. Amor de mãe não pede pra ter vez e não disputa espaço no coração. Amor de mãe é cego às imperfeições e aos defeitos, pois só faz questão de enchergar as qualidades e as virtudes. Amor de mãe lê pensamentos e traduz sentimentos. Amor de mãe é absoluto, indelével e universal.

Não apenas mãe, pois muitas vezes para mim foi também pai, irmã, amiga—e companheira. Sempre dava um jeito de segurar-me as mãos para que pudesse seguir em frente comigo, até que um dia aprendi a caminhar com minhas próprias pernas e hoje entendo a angústia que foi soltar-me e entregar-me ao mundo. Sei que aplaude meus sucessos e que padece com meu sofrimento, mas também sei que é a única que estará sempre me esperando—pronta e com um sorriso no rosto—de braços abertos.

É única. É insubstituível. É inspiração. É mãe. É minha.

Do seu mais grato admirador,

V.



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Rejeição. O único ultraje capaz de me assustar mais do que o amor. Assustar e derrubar. Não sei lidar com sentimentos voluptuosos e obscuros, de um grau de complexidade que foge ao meu entendimento, à minha filosofia. Por que as areias do tempo revolvem displicentemente aqui dentro? Quem sabe eu mereça mesmo sofrer as consequências da minha falta de prudência. Sei que é perverso, mas não o talho por maldade. É quase espontâneo, parte integrante do meu ser, emaranhado e (in)consequente. Traumático, mas não se justifica.

Me ponho à janela, então, à esperar que o amor verdadeiro passe debaixo, entre sem pedir e me dê uns bons tapas na cara.



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Me vejo preso em meus próprios devaneios—bonitos e breves—na ânsia de que sejam capazes de ultrapassar a barreira entre o sonho e a realidade. O corpo estremece e um calafrio me percorre a espinha. Primeiro veio a inevitável cisão, então a ambiguidade do dilema e, assim, senti-me desprender do possível em direção ao que me parecia perfeito. Tudo faz sentido. Tudo faz sentido ao menos dentro da minha mente.

Tem vezes em que me sinto como quem brinca com o espelho, arremessando elogios e sentimentalismos contra ele, de forma que o proferido ao outro seja um autoelogio. Tem vezes em que penso estar nutrindo um monstro, capaz de destruir quando grande o suficiente. Tem vezes em que a sanidade dilacera meus planos, minhas visões, minha contemplação de agradabilidade e de bons tempos para o amor.

Viver de sonhos me consumia as graças—e quando cai em mim, de volta ao presente, percebi que o mundo é monocromático, desenxabido, bruto, inexorável. Nada mais me cativa e tudo parece repetir-se num prolongado e apático ciclo...



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di.le.ma
sm (gr dílemma) Situação embaraçosa entre duas soluções fatais, ambas difíceis ou penosas.

Em momentos em que meu coração decide por falar em tom superior, meu raciocínio lógico cala-se, abaixa a cabeça e acata sem titubear...



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Caminho pela cidade buscando tua boca, mas ninguém sabe onde estás. Acho que estou sozinho... Pessoas vão e vêm e eu espero, no mesmo lugar, apegado à tua memória. Me pergunto o porquê de não poder te encontrar. Todos falam de ti, mas aqui não estás. Me pergunto o porquê de teres partido. Acho que posso te ver, mas aqui não estás...

Exatamente.



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Descorriam-se acontecimentos rápidos demais para a minha inteligência. Eram dois, depois três e, então, quatro. As vozes se confrontavam entre tons de vermelho e o trânsito da cidade se colocava de espectador. As luzes pintavam um cenário apático, refletido na garoa fina. Notei que a audiência borrava-se pelos cantos, curiosa pelo desfecho e nada prestativa ao imprevisto. Perdi todo o princípio, todo o estímulo causal que deu origem ao caos. Minha mente me impôs um bloqueio, mecanismo de defesa, e me estimulava à fuga. Instinto. Não se falavam mais línguas, ouvia apenas grunhidos, gemidos, urros. Nada mais fazia sentido.

Paranóia ou mistificação?



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—Você tem um cigarro?
—Estou tentando parar de fumar.
—Eu também. Mas queria uma coisa nas mãos agora.
—Você tem uma coisa nas mãos agora.
—Eu?
—Eu.

Abreu, Caio Fernando.



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Um dilema que começa e termina na redundância da indecisão. Uma atitude que se faz julgar pela prudência ou pelo gozo. Um momento que, na ânsia se tornar-se perpétuo, avança desenfreado em direção ao sólido. Uma palavra, que de tão vigorosa, torna-se capaz de dilacerar e fazer definhar.

A vida não pode ser baseada em gelo, pois, em dia de calor, torna-se água e não sustenta o âmago.



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Pensa em algo extremamente dúbio.

Em inconstância de adolescente se encontra minha vida. São tantos sentimentos, tantas emoções explodindo ao mesmo tempo aqui dentro que me perco, me confundo e não sei em qual delas focar. Se é que devo fazê-lo. Rodopio no meu próprio eixo de polpa geminiana. Quero e não quero. Desfaço, refaço, faço, fácil, face, fóssil, fuço, buço, pulso, sulco, tumulto, oculto. Carapaça, carapuça, carapaça. Sair é uma opção? Ah, dúvidas, por que existis?

A certeza é algo que, de tão abstrato, torna-se irresistivelmente apetitoso.



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Pensa em algo que te faz bem.

Inevitavelmente, acabamos repousando certos anseios em substratos imperfeitos, as pessoas. E é da convivência que afloram sensações diversas, positivas e negativas, pretas e brancas. Enfim, deixamos a felicidade confiada a alguém sem certezas de reciprocidade. De certo modo, o desprendimento desse cordão umbilical torna o ego mais emancipado de suas distorções e, assim, possibilita que se esteja alegre mesmo em meio à tempestade negra da mente. Isso nos torna bastante dependentes do outro, mas, acredito eu, que o risco vale a pena. Sou adepto dessa nova maneira de encarar as coisas, cansei de sofrer.


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Planos são meras compilações de agenda com o intuito de organizar algo inorganizável: a vida. Tramam-se esquemas para que as pretensões saiam de acordo, mas entra em cena, então, uma incógnita variável de valor inimaginável: o ser humano. Já cansei de dizer que expectativas nos quebram as pernas, mas quem disse que sou capaz de seguir meus próprios conselhos? 

Fico por ai, remoendo, remoendo, remoendo...



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Inferno astral, em alguns dias vou aniversariar e depois o ciclo recomeça. Todo ano esse vai-e-vem me derruba e depois me dá forças pra encará-lo novamente. Sempre assim. Sentimentos bagunçados, fim de ano tem corrido, mas meu oásis ainda parece longe. Novembro chegou tão tímido que nem percebi, agarrado no rabo de saia de Outubro—um furacão. Espero (im)pacientemente por Dezembro, que traz consigo muitas delícias.

Mais um semestre se foi e eu sinto como se não tivesse feito nada. Informalidades, desimportâncias e gambiarras. Um dia é da caça e o outro, do caçador. Que minha viagem aconteça e que eu viva os dias mais intensos e inesquecíveis da minha vida.

E que assim seja.



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As pessoas sabem mentir—muito bem por sinal—somos todos bons atores do palco da vida. A dedicação é algo que não existe, a confiança se desfia em intrigas e blasfêmias e o sentimento se relativiza. Digo, não sei o porquê de ainda me surpreender com certas atitudes, sinto como se estivesse com um caroço atravessado na garganta. Deixo-me ser enganado por momentos de prazer e frases de impacto. Palavras são palavras, se perdem com o vento. E assim, todos as ocasiões se desmancham frente à tempestade. Preciso mudar.

Autocorreção.



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Chega um momento em que o pavio, de tanto queimar, toca a pólvora e faz com que exploda. Chega de ser complacente, de esperar pela bonança,  de acreditar que um dia tudo vai mudar. 



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Cansaço: tenho feito de tudo para expulsá-lo da minha rotina, mas meu relis esforço foi em vão. Dias longos, noites curtas, curtíssimas. Problemas, não necessariamente de ordem afetiva, brotando aos borbotões e não sei por onde escapar. São intermináveis questões de ordem concreta e não viagens paranóicas e abstratas. É claro que um abalo sísmico estrutural chacoalha o emocional, mas sei que cabe a mim—e somente a mim—saber separar os fatos e não deixar que um infortúnio se confunda com pendências sentimentais. A união vence barreiras. Amizades, relacionamentos, família.

Comprometimento, coragem e vigor são as chaves para os meus problemas.


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A velha estória do amor platônico que extrapola seus limites e transita, por côncavos e convexos da psique, entre o real e o imaginário. Depressão, arrependimento, desilusão, descrédito, murmúrios, chorumelas e choramingos. O final é sempre igual e previsível—um dejá vù repetido infinitas vezes. Tento me abster de sentimentalismos desnecessários e elos emotivos, mas tem vezes em que a cilada é imprescindível. Cai em minha própria armadilha. Algo me consome, me controla e me usa de trampolim até vontades exóticas, que são novidades ao meu âmago. Sigo um caminho já desbravado e perigosamente irresistível rumo ao fim.

Ora me precipito e dou o primeiro passo, ora peno por pensar demais. Gosto de viver, tentar, testar, experimentar, sentir. Mas entendo que aprender a ponderar e conseguir equilibrar os dois pratos da balança se faz necessário.

Tarefa de casa.


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G,

Muitas coisas estão na nossa vida apenas de passagem. Elas surgem, fazem um pit stop e então partem—as vezes despercebidas, as vezes deixando marcas. E cabe a nós mesmos não deixarmos que essas efemeridades interrompam nosso ciclo natural de desenvolvimento pessoal; Não deixarmos que tais marcas abalem nossa trajetória e atrapalhem nossos objetivos. Essas "coisas", vulgarmente conhecidas por "pessoas", são capazes de causar estragos irreparáveis. E uma coisa que a vida me ensinou é que nós só devemos edificar nossos carinho, confiança, lealdade e amor (principalmente) sobre estruturas supersólidas e resistentes. Ou seja, nós temos de ser fortes pra não começarmos nossa pequena construção encima dessas "coisas", quer dizer, "pessoas" que só estão de passagem pela nossa existência. E ai entram os amigos—os verdadeiros—que são o maior exemplo de solidez: gostam de você incondicionalmente pelo que é e, principalmente, te ajudam a se recompor quando está amolecido e sem vontade de viver. Guarde bem os que se importam com você, porque nessa vida é deveras fácil confundir um nômade com um sedentário.

Posso não ser aquele que te demonstra maiores provas de amizade, mas saiba que meu carinho, minha consideração, meu amor por você são incomensuráveis. De verdade, eu não digo isso pra qualquer um. É que sou um caramujinho dentro de uma concha de grosseria e rispidez, sempre na defensiva. Estive, estou e estarei aqui para o que precisar, seja de uma ajuda acadêmica, um estímulo emocional ou um ombro pra chorar.

Beijo enorme de alguém que te ama e te quer bem.



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A saga do coração irrequieto segue cada vez mais firme—juro que não sei porque ainda deixo que os sentimentalismos me afetem tanto. Platonismos são portos seguros da minha infantilidade e não manobras de suprimento emotivo e psicológico. Mas o pior de tudo é fazer e gostar. Ai vem a culpa, o arrependimento, a ressaca em função de algo tão abstrato e improvável. Desilusões. De nada adianta resolver politicamente as pendências se a ânsia por vingança é eminente. Fazer, gostar e se arrepender. Refazer, regostar e se rearrepender? Será que vale correr o risco de tornar-se servo das emoções às custas da culpa? Minha capacidade de julgamento encontra-se infinitamente abaixo dos meus sentimentos.

É forte e me consome. Acho que tenho medo de me apaixonar.


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A felicidade é um estado de espírito, sem fórmula certa, receita ou procedimento padrão. Cada um é livre e apto (acredito eu) a encontrar a sua das mais diversas e oportunas maneiras possíveis. Uma companhia querida, boas risadas com lembranças do passado, um momento de união, uma ocasião pela qual tanto se esperou. Tenho notado a maneira da qual as pessoas se portam e, com certeza, digo que o meio influencia o indivíduo e seu imaginário. Fantasiar—e temer—o que os outros pensam de si é só mais uma maneira de expressar o medo pelo desconhecido e o receio em desbravar um universo alheio ao próprio. Nunca viveu-se tanto de aparências quanto hoje e há, inclusive, quem faça de sua felicidade um sacrifício em nome do status quo. Acho deprimente.

O primeiro passo ao amor próprio é a aceitação. O indivíduo que não está bem consigo mesmo não transmite segurança e positividade. Em terras onde o bem-estar é lei, incomodar-se com a insignificante opinião de terceiros é crime passível de exílio. Os olhos são a janela da alma e a imagem é o retrato do espírito e da personalidade, ainda mais porque gosto e caráter são dois conceitos pertencentes à planos distintos. Seja, faça, aproveite, mude, transmita segurança, ame, divirta-se, viva—tudo em função de um objetivo convergente, a felicidade. Momentos queridos são como um coringa, moldam-se à qualquer vontade.

Louco é aquele que não se permite ser feliz.


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Coração e mente. Dois substratos semi-independentes de mim mesmo, cada qual com suas sintonia e lógica próprias. Por mais que meus esforços concentrem-se em fazê-las operar em frequências simétricas, elas, uma a uma, imprimem sobre mim reações tão megalomaníacas e tão opositivas. O coração teme, simpatiza, compadece e acolhe. A mente despreza, pisa, abusa e descarta. Um se impõe pra se fazer presente, o outro pressupõe dependência.

Verdades incontroláveis.


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O destino se aproxima, dia a dia, trazendo consigo inseguranças e incertezas que eu, mesmo plantado no solo do juízo perfeito, temo o pior. Temo julgar e tomar a decisão errada—mais uma decisão errada—que me fará sofrer pelas perdas e remoê-las. Altos e baixos, certos e errados, brancos e pretos são coerentes na vida e, assim, fazem parte dela, porém eu supervalorizo as intempéries. Inexoravelmente. É quase robótico, automático; mas vicissitudes têm uma força tremenda nas minhas concepção pessoal e intolerância.

Faço planos sobre fatos desfocados e isso supre minhas demandas por pensamentos positivos. Essa é minha força, minha crença em mim mesmo. Olho pra trás com ares de saudosismo e arrependimento, mas é a vontade de melhorar que me impulsiona. Acredito em mim, não em minhas ações. Ego e superego travam uma batalha épica pra decidir minha posse, como um prêmio, uma indenização pós-guerra. Realidade versus perfeição. O presságio de melhoramentos é mais uma miragem do que uma verdade.

Eu espero paciente o dia da mudança. Tolerância, intrepidez, perseverança, confiança, convicção.


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Há quem busque conforto numa religião e creia que a vida é/está funesta e agourenta por motivos de razão superior. Já eu prefiro conferir meu azar às escolhas ingratas e oportunistas e acreditar que sou personagem de um medíocre jogo de escárnio. Da minha existência escalam-se porcas hipotecas, no meu ridículo destino são baseadas as cartas de sorte ou revés, pelo meu caminho constroem-se ambiciosos hotéis de hóspede nenhum. Brinco com o futuro, mas eventualmente sou surpreendido por uma surpresa incoerente, inesperada e, de fato, inapropriada.

Lei de Murphy sempre conspirando contra a harmonia natural do meu universo pessoal.


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Eu acredito no amor verdadeiro, infinito e incondicional. Há quem me chame de incrédulo ou pessimista, mas justamente por enxergá-lo e nele confiar, que a cada dia dou menos crédito à sua existência. As emoções, assim como os relacionamentos, estão cada vez mais banalizados e descompromissados—uma amizade, um namoro, um casamento são datados e possuem prazo de validade, como produtos. As paixões são tomadas pela atração da carne, ou mesmo por status, e os laços sentimentais são deixados de lado. Com tanta oferta no mercado, as pessoas não buscam mais algo fixo e estável, se importam com a quantidade e com o rótulo em detrimento da qualidade e do conteúdo. Os relacionamentos, de fato, começam de fora pra dentro—no geral, é a atração física que estimúla a abordagem e os primeiros contatos—mas é recorrente que se pare na fachada ao invés de adentrar no universo do outro. Ficar com alguém se resume a mostrar a terceiros como sua companhia é invejável e desejável.

Ou seja, a oferta reduz a qualidade, os relacionamentos estão em frangalhos, o sentimento amor foi reduzido a uma palavra contraditoriamente banal e temida, como se sua pronúncia enunciasse catástrofes galáticas. Quantas relações não terminam pela falta de respeito, agressões físico-verbais, infidelidade. O primeiro passo para amar é respeitar, que, acredito eu, seja o que muitos estejam abstraindo. Amor é confiança, amor é amizade, amor é carinho, respeito, compreensão, lealdade, confidência, complacência, cumplicidade, fraternidade. Amar é dar sem pedir nada em troca.

Por isso, volto a dizer que acredito piamente no amor verdadeiro, no amor como sentimento puro e ingenuamente infantil, no amor psicológico e não carnal. Acredito em sua concepção e definição, mas não em sua existência universal. Posso estar enganado em crer que este conceito seja algo inerente e único da minha esfera mental, porém enquanto o homem não mudar, ser menos egoísta e mais altruísta, menos selvagem e mais comportado, menos instintivo e mais pensativo, menos superficial e mais profundo, continuarei trancafiado em minhas próprias idéias, irredutível.


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Certos fatos já foram recorrentes e aceitáveis durante a minha mera existência. Faziam parte do meu cotidiano jovem e imaturo e, de certa forma, encaixavam-se na compostura do momento, naquela fase da vida. Mas o tempo foi passando e as atitudes, transmutando-se noutras, talvez até antagônicas às anteriores. Os conceitos amadurecem, das opiniões reforçam-se os fundamentos, à experiência se adicionam oportunidades de aprendizado. Ou seja, estou envelhecendo. Mais rápido do que deveria. Esvaecem-se minhas disposição e paciência para com certas opiniões e atitudes. Como as personagens woodianas, tão sábias, paranóicas e irresistivelmente insuportáveis. O tempo passa e ficam para trás as loucurinhas reprimidas de uma adolescência de experimentações, meio rebelde, meio frenética e nada contestadora. Das minhas peripécias, ficam apenas as divertidas lembranças de tempos que não voltam mais...


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Tudo é passageiro, porém recorrente, seja um prazer ou uma desgraça. E eu me deixo levar por todos eles; sou do tipo que vive todas as emoções a fundo. Sou sentimental, levemente neurótico e, sem dúvida, romântico. A vida que me oferece escolhas demais em momentos inapropriados e eu, sem saber qual delas abocanhar, acabo me apaixonando demais e me relacionando de menos. Sei que sou um bom amigo e um bom companheiro, apesar de ser bastante reservado. Acho que a minha dificuldade está em muitas vezes não conseguir andar pra frente sem olhar pro passado e me lamentar. Erros e mais erros, os quais deveriam estar enterrados e trancafiados em uma tumba, me perseguem dia e noite.


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Retomei meus princípios e voltei ao ponto de partida.
Amores platônicos não revigoram mas também não machucam.